quinta-feira, 5 de abril de 2012

Conto

BAR IMPERIAL
Eduardo Dado Moraes – Março, 2012  
Sempre que ele chegava a uma nova cidade, logo depois de visitar seus clientes e de acomodar-se em um hotel, gostava de procurar um lugar agradável para colocar os pensamentos em ordem, degustar um vinho e jantar, só então, cumprido este ritual, voltava ao hotel para uma reconfortante noite de sono.
            Esta era a sua rotina de segunda a sexta-feira, a tristeza de invariavelmente jantar só, por outro lado havia saído de um casamento infeliz, e também não tinha para onde voltar, pois nos fins-de-semana retornava para a impessoalidade de um apart-hotel. Era um homem triste, sem muitos motivos para sorrir, mas pelo menos tinha o seu trabalho de representante comercial. Mas findo o horário de trabalho a solidão tomava conta dele.
            Deixou seu carro na garagem, e saiu andando, era uma cidade que visitava pela primeira vez, a três quarteirões do hotel encontrou um bar simpático, antigo. Um letreiro sobre a porta indicava: “Bar Imperial”. Ele foi recebido pelo velho garçom que o conduziu a uma mesa de canto, só duas outras estavam ocupadas por grupos que riam e falavam do seu dia.
            Arnaldo pediu a carta de vinhos e escolheu um cabernet sauvignon argentino, o garçom trouxe o vinho e ofereceu um jornal, que ele aceitou prontamente. O sabor levemente amadeirado do vinho fez bem a ele, uma sensação de bem-estar ele experimentava, quando entra naquele bar uma bela mulher, morena, pele muito branca, alta, esguia. A conversa nas outras mesas cessou.
            Impossível tirar os olhos dela, aquela mulher magnetizou-o por inteiro. E ela jogou um sorriso em sua direção. Arnaldo ainda olhou pra trás, para certificar-se de que era pra ele. Retribuiu timidamente, quase um esboço de sorriso, não mais que isso.
            Ela sentou-se a duas mesas dele, ele tomou seu cálice e se dirigiu a ela, apresentou-se e convidou-a a fazer companhia a ele, ela não relutou muito, e transferiu-se de mesa.
            A conversa rolou naturalmente, depois de alguns minutos dava a impressão de se conhecerem a muito, o tempo escoou sem que eles percebessem, ambos estavam agradavelmente encantados um com o outro.
            Ele provocou: -“Tenho que ir, amanhã minha jornada começa cedo!” Ela então o convidou a acompanhá-la até seu apartamento que ficava muito próximo do bar, ele foi, claro, andando pelas calçadas estreitas, curtindo aqueles momentos. Chegaram a um pequeno prédio de quatro andares, subiram até o segundo e entraram no apartamento 202.
            Um lugar simples e acolhedor... em uma pequena adega ela apanhou uma garrafa de vinho da mesma variedade que beberam no bar, pegou  dois cálices e entregou a ele um saca-rolhas para que ele abrisse o vinho. Sentou-se no chão ao lado de uma mesa de centro, e chamou-o para perto de si.
            Tudo naquele ambiente era cheio de sensualidade, e naturalmente foram se envolvendo, ele começou a abrir seu coração, com naturalidade, sem barreiras... ela mais reservada, falava menos, escutava mais e retribuía suas carícias. A temperatura subia, suas bocas se procuraram e se encontraram num beijo quente.
            Suas mãos despiam um ao outro, devagar, peça por peça, e pouco a pouco os corpos se descobriam, os pelos eriçavam-se, a nudez dela fascinou-o a tal ponto que o que restava de controle, e sobrava muito pouco, foi pro espaço, e se amaram noite adentro.
Acordou-se sobressaltado, diante dos compromissos do outro dia, saiu correndo, daria tempo de um breve cochilo no hotel e enfrentar o dia de trabalho, em condições normais no fim da tarde já iria para o próximo destino, mas resolveu ficar, embora não tivessem combinado nada, ficou explícito que ele voltaria no fim da tarde seguinte. O dia custou a passar, o perfume dela ainda estava na sua memória e mexia com cada músculo e com a emoção de Arnaldo.
Chegou correndo ao hotel, um banho rápido e saiu a rua diretamente ao apartamento de Sylvia (este era o nome dela), subiu os dois lances de escada de dois em dois degraus, e bateu à campainha... nada. Insistiu, até que aproximou-se um vizinho e perguntou por quem ele procurava, e quando ele disse este homem surpreendeu-se. –“Mas este apartamento está vazio, a dona morreu faz dois meses!”
Ele disse que o homem estava sonhando, que ele estivera ali na noite anterior. Saiu rapidamente, pensando que o vizinho era um louco e foi andando a passos largos para o Bar Imperial, venceu os poucos quarteirões em segundos, chegando lá encontrou no local um tapume com um cartaz que anunciava: Breve aqui mais uma loja da rede Colombo.
Perguntou a um policial que passava por ali, pelo Bar Imperial, o policial deu a informação: -“Era um belo local, fechou há 4 meses, uma pena.”
Ele nem respondeu, com as mãos enfiadas nos bolsos da calça, andou até o hotel, precisava sair daquela cidade imediatamente.

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